A estratégia de Macron para frear o acordo Mercosul-UE antes da Cúpula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa da Cúpula de Líderes do Mercosul em Montevidéu nesta quinta-feira (5/11). O encontro marca a última reunião antes da presidência do bloco passar para a Argentina, agora liderada por Javier Milei. No entanto, o foco brasileiro está além da América do Sul: a Europa, onde o aguardado acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia volta ao centro das atenções.

LEGISLAÇÃO E GOVERNO

12/5/20242 min ler

O cenário: Lula e o Mercosul em Montevidéu

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa da Cúpula de Líderes do Mercosul em Montevidéu nesta quinta-feira (5/11). O encontro marca a última reunião antes da presidência do bloco passar para a Argentina, agora liderada por Javier Milei. No entanto, o foco brasileiro está além da América do Sul: a Europa, onde o aguardado acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia volta ao centro das atenções.

Após 25 anos de negociações, há expectativas de que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, participe da Cúpula para anunciar a conclusão do tratado. Contudo, como no ano passado, as incertezas permanecem, especialmente devido à oposição da França.

França contra o acordo: a estratégia da "minoria qualificada"

O presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido um dos maiores críticos do acordo. Sua principal justificativa é a pressão de agricultores franceses, que temem a concorrência dos produtos agropecuários do Mercosul, especialmente carne do Brasil, Argentina e Uruguai.

Para barrar o avanço do tratado, a França aposta na formação de uma "minoria qualificada" no Conselho da União Europeia. Esse mecanismo exige que quatro países, representando juntos mais de 35% da população do bloco, se oponham ao acordo. Além da Polônia, já aliada, Macron busca apoio de Itália, Países Baixos e Áustria para atingir os 156 milhões de habitantes necessários.

Os desafios para a França

Especialistas apontam que, embora a França tenha poder de influência, bloquear o acordo de forma isolada é improvável. A oposição precisa de respaldo de outros países europeus. Além disso, o forte lobby agrícola francês encontra resistência em economias industriais da União Europeia, como Alemanha e Espanha, que veem no acordo uma oportunidade estratégica para manter influência geopolítica, especialmente frente ao crescimento da China e da Rússia na América do Sul.

Impacto econômico e a perspectiva brasileira

O governo brasileiro mantém otimismo. Lula declarou recentemente que pretende assinar o acordo ainda este ano. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estima que o tratado poderia gerar um aumento acumulado de 0,46% no PIB brasileiro entre 2024 e 2040, equivalente a US$ 9,3 bilhões anuais.

Além disso, o Brasil se beneficiaria de reduções tarifárias na Europa e maior competitividade de seus produtos no mercado global. O tratado, contudo, ainda depende da resolução das tensões com a França e do momento político delicado que Macron enfrenta internamente, agravado por recentes crises políticas.

O efeito Trump e o futuro do acordo

Outro fator que pode influenciar as negociações é a recente reeleição de Donald Trump nos EUA. O protecionismo prometido pelo republicano pode incentivar sul-americanos e europeus a avançarem no acordo como forma de contrabalançar o impacto de tarifas unilaterais norte-americanas.

Conforme as negociações avançam, o desfecho do tratado Mercosul-UE permanece em aberto, mas a pressão de ambos os lados sugere que as próximas semanas serão decisivas para um possível acordo histórico.

Foto: BBC News Brasil